Relatos sobre as aventuras do extinto jornal oitentista emocionam público
O lançamento de Nosso Tempo Digital foi recebido como um presente no mês de aniversário da quase centenária Foz do Iguaçu. Contemporâneos do oitentista nanico da imprensa alternativa e jovens viajaram pela história com os relatos dos fundadores, com a exposição de capas e páginas do semanário, e com a apresentação da versão eletrônica do seu acervo.
Cerca de 250 pessoas viram pela primeira vez, ou reviram, os personagens e fatos do jornal, resgatados durante a apresentação do projeto, na segunda-feira (20). O ponto de partida para a roda de conversa foramos relatos dos editores Juvêncio Mazzarollo, Aluízio Palmar e Adelino de Souza, e do último proprietário do jornal, Adão Almeida.
Prisão – Bastante emocionado, o jornalista Juvêncio Mazzarollo revelou que o momento vivido naquela noite foi muito marcante. “O prestígio daquela aventura de que nós fizemos muito tempo atrás está viva e mantém o respeito da nossa comunidade. Isso pra mim é tudo”, afirmou.
Juvêncio lembrou o período no qual permaneceu preso de 1982 a 1984 por crime de opinião, sendo enquadrado na Lei de Segurança Nacional (LSN). “É uma recompensa até pelo que se sofreu naquela luta, no meu caso inclusive com prisão. Até essas amenidades havia naquele tempo”, disse.
O jornalista espera que o trabalho colocado na internet seja útil para muita gente que quer, gosta e precisa conhecer a história da região. “A história da nossa cidade, do nosso país, do Paraguai e tudo mais”, completou, sem se esquecer de citar a importância do diagramador Jessé Vidigal na criação da ousada identidade visual do tabloide.
Resgate – O jornalista Aluízio Palmar enalteceu o fato de a história sair debaixo do tapete e vir à luz. “É uma memória dolorosa, mas é a história. No fim, é a história.” Palmar lembrou que o jornal nasceu num momento de muitas injustiças sociais, de uma urbanização violenta que atropelou os direitos humanos, o meio ambiente, etc.
Aluízio recordou que o jornal surgiu para combater as injustiças no “último reduto do arbítrio e da tirania” –ao se referir à época do prefeito nomeado Clóvis Cunha Vianna. “É uma parte da história de fatos. Esse é o museu digital, já que nós não temos outro museu na cidade.”
Para o jornalista, o Projeto Nosso Tempo Digital colocou na rede mundial de computadores uma carga de conhecimentos sobre Foz do Iguaçu que está a um clique das novas gerações. “E assim vamos construindo a identidade de Foz do Iguaçu, construindo a identidade através da reconstituição da memória”, ponderou.
Lembranças – O jornalista Adelino de Souza relatou alguns casos sobre as reportagens de combate à ditadura, em especial um episódio envolvendo um interrogatório perante um delegado especial da Polícia Federal. Na época, ele precisou contar com a sorte para encobrir Juvêncio e não ser preso por falso testemunho.
Adelino lembrou ainda as dificuldades para fazer matérias. “Hoje os jornalistas mais novos têm moleza, têm internet, telefone, celular; naquela época nós andávamos, às vezes, a pé para economizar, às vezes com Fusquinha vermelho do Juvêncio, às vezes de ônibus, e íamos colher a reportagem in loco”, comparou.
O jornalista recordou quando os três foram julgados por juízes militares em virtude dos escritos. Resultado: Juvêncio, condenado, e Aluízio e Adelino, absolvidos. Quando Juvêncio chegou ao porão da penitenciária, percebeu três camas. “Daí o carcereiro perguntou: ‘cadê os outros dois’? Quer dizer, estava tudo acertado”, contou.
O fim – O último proprietário do Nosso Tempo, o policial Adão Almeida, buscou sintetizar a trajetória do jornal. Para ele, a publicação nasceu com data para morrer porque era um periódico de lutas, de combateàs ditaduras no Brasil e no exterior. Com o fim da ditadura e a chegada das eleições diretas, o semanário ficou sem norte. “O jornal cumpriu com o seu papel. Foi uma contribuição para a democratização do país”, avaliou.
Interação – Após os quatro relatos, coubeaos idealizadores e organizadores de Nosso Tempo Digital, os jornalistas Alexandre Palmar, Douglas Furiatti e Wemerson Augusto, apresentarem o sitecom o acervo eletrônico. A noite foi marcada ainda pelos olhares espantados do público diante da exposição com capas e páginas históricas do jornal, além de um bom papo acompanhado pelo som da banda “Nem Pelé Nem Maradona”.
A ideia – Nosso Tempo Digital consiste na recuperação, digitalização e publicação na internet de 387 edições do jornal (1980 a 1989). A segunda parte da digitalização (1990 a 1994) será lançada no segundo semestre. Agora uma pesquisa pode ser feita em segundos com a digitação de palavras-chaves no buscador.
O projeto é um sonho antigo e uma realização de MEGAFONE – Rede Cidadania na Comunicação, com patrocínio da Itaipu Binacional e Uniamérica. Apoiam a iniciativa o Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Subseção de Foz do Iguaçu), Casa da América Latina, Guatá – Cultura em Movimento, e Centro de Direitos Humanos e Memória Popular.
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